domingo, 3 de janeiro de 2010

Dragon Age: Origins



Os RPGs ocidentais (WRPGs) conseguiram, nos últimos anos, destronar os seus homólogos nipónicos. Há vários factores relativamente menores que estão na origem desta nova tendência: certos detalhes estéticos e narrativos, uma ausência de títulos inovadores vindos do Japão e, talvez, um perigoso patriotismo ocidental que tem vindo a afastar os consumidores da cultura japonesa. No entanto, não podemos esquecer o mais importante: a qualidade geral dos WRPGs tem aumentado substancialmente e Dragon Age: Origins confirma-o.

Apesar de, à superfície, parecer uma cópia redundante do universo de fantasia de O Senhor dos Anéis e da estrutura de Baldur's Gate, a profundidade da interacção entre personagens e a mestria da Bioware em saber contar histórias transformam o título numa experiência obrigatória para aqueles que gostam de se perder num bom guião, mesmo quando, esporadicamente, ficamos com a sensação de estar a assistir a uma soap-opera com elfos. A narrativa, melindrosamente escrita, esconde vários segredos e “twists” e surpreenderá, inclusive, o jogador mais atento.

A premissa é simples e serve apenas de tapete para uma intenção superior que se prende com a apresentação e desenvolvimento de personagens. O reino de Ferelden foi invadido por um exército de criaturas maléficas e o jogador terá de reunir as diferentes facções residentes numa luta épica contra o inimigo (sim, o título do jogo deixa adivinhar um poderoso dragão como boss final).

As características do role-playing são similares a títulos anteriores da Bioware e possibilitam uma personalização total do protagonista. De igual forma, as diferentes decisões tomadas pelo jogador influenciam o universo do jogo e, consequentemente, a sua resolução. O génio, no entanto, reside nos pequenos pormenores. Por exemplo, é fácil convencer uma personagem a acompanhar o jogador nesta missão mas, de igual modo, esta pode abandonar o grupo devido ao comportamento moral do líder. Todas as decisões têm uma repercussão que abandona o lugar-comum da dicotomia entre bom e mau.



DAO, infelizmente, não se faz só de diálogos jocosos e personagens construídas com profundidade. O combate, pelo menos na versão para consola, é a parte menos conseguida do jogo. É possível definir tácticas para personagens específicas e pausar o jogo para aplicar poções e comandar o grupo, mas no meio da acção mais frenética, é comum ver os nossos feiticeiros e guerreiros perplexos com a salgalhada em que estão metidos. Ao jogador, igualmente desnorteado, só resta restaurar incessantemente a energia dos membros do grupo e torcer para que tudo acabe rápido e bem.

Contudo, não nos deixemos desapontar pela luta. DAO apresenta um argumento adulto, exemplarmente construído, que evita contornos sexistas e homofóbicos habituais nos jogos de vídeo e respectiva comunidade. A quantidade de informação disponível sobre o reino de Ferelden e os seus habitantes é numerosa e bem delineada. Foi com todo o prazer que dediquei 50 horas a DAO. Voltarei à magia de Ferelden assim que for publicado novo DLC.

4.5/5

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