domingo, 3 de janeiro de 2010

Machinarium



Machinarium é o tipo de jogo que, com um único screenshot, consegue promover a eterna discussão sobre a possibilidade de os jogos serem considerados arte. Quando uma variedade de aspectos artísticos converge coerente e convincentemente num trabalho deste tipo, é impossível evitar esta questão – e qualquer pessoa sensível a pormenores de ilustração, animação, design de som e música responderá de forma positiva. Independentemente do currículo do jogador, é também o tipo de trabalho que pela criatividade empregue na sua realização tem o poder de comover profundamente.

Conduzidos pelos fundos, itens e personagens desenhados à mão, lembramo-nos do trabalho visual de Nicolas de Crécy e do melancólico humor slapstick de Buster Keaton. A banda sonora, de Tomas Dvorak, altamente influenciada por artistas da Warp Records, revela texturas dignas de uns Plaid, assim como detalhes glitch associados ao legado de Aphex Twin.

Para interagir com este mundo belíssimo e sedutor, é utilizada uma interface típica das aventuras gráficas dos anos 90. Clique, clique, clique – e o nosso adorável robot descortina-nos a sua história enquanto o ajudamos com puzzles inteligentes e bem integrados na narrativa. No caso de dúvida ou empanque, podem ser utilizados dois sistemas de ajuda. Um deles é um pequeno jogo em si mesmo (talvez para desmoralizar o jogador mais preguiçoso, obrigando-o a racionalizar um pouco mais) em que a solução é apresentada deliciosamente em forma de comic-book. É de louvar esta inclusão, uma vez que evita o recurso a gamefaqs que acabariam por interromper a imersão proporcionada pelo jogo.



Jakub Dvorsky, lead designer de Machinarium, refere Myst e Grim Fandango como obras influentes no seu trabalho, mas é impossível esquecermo-nos de Eric Chahi e dos seus Another World e Heart of Darkness. O isolamento, ausência de diálogo e desamparo num mundo que não é o nosso estão igualmente presentes. Todavia, é excluído o factor de perigo dos títulos de Chachi, aqui substituído por uma atribulada ternura.

Os artistas, designers e programadores da Amanita Design mostram-nos que não são precisos motores 3D de tecnologia de ponta para emocionar e envolver o jogador. Basta a linguagem Flash, dedicação e bom gosto. Experienciar Machinarium não é muito diferente de ver uma metragem de animação de qualidade no Cinanima ou de ler banda desenhada independente. Apenas difere no elemento de interactividade e, pessoalmente, só ganhamos com isso.

Para responder à incontornável pergunta do primeiro parágrafo, “Sim, Machinarium é arte”.

5/5
Podem comprá-lo aqui por uns simbólicos 14 euros.

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