quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ilustração narrativa em Bayonetta




Ando a jogar Bayonetta e apercebi-me que, durante a apresentação da história (vulgo cutscenes), prefiro-o estático. Passo a explicar. O intrincado e enigmático enredo é desembrulhado através de longas sequências que poderiam ter saído do teatro militar de Metal Gear Solid. Num abrir e fechar de olhos, entram e saem personagens do palco, numa montagem frenética de eventos que terminam invariavelmente  num par de minutos de acção explosiva bem coreografada.

No entanto, esta exposição é intercalada por um novo molde. Frequentemente, a acção, sempre processada em tempo real, é capturada num único frame em que apenas a câmara tem acesso ao movimento. Desenganem-se imediatamente os que pensam que se trata de uma espécie de efeito “Matrix”. Trata-se de uma opção estética que se aproxima mais da banda desenhada. Sucedem-se pequenas capturas inseridas numa película virtual em que a faixa sonora é reproduzida ininterruptamente. As personagens congeladas, como numa ilustração, ganham um poder figurativo. E é aqui que o jogo sai beneficiado, evitando o indesejado “uncanny valley”.

Por muito dinheiro e talento que se possa gastar em tecnologia motion capture e em motores 3D, é extremamente difícil (e aqui excluo grande parte dos filmes de animação 3D) convencer o jogador/espectador de que as personagens digitais possuem um carácter humano. Aliás, o efeito parece-me poder ser o inverso. Quantos mais pormenores de comportamento e detalhes fisionómicos animados são injectados, mais evidente é a inexistência humana. No pior do casos, o jogador, distraído pela parafernália tecnológica, passa a concentrar-se nos artifícios, abstraindo-se da componente narrativa. O jogo, com o impulso de querer mostrar tudo, perde a subtileza e anula o lugar para a imaginação.

Não quer isto dizer que não há espaço para a animação 3D, longe disso. Apenas me parece que, quando confrontada com outros modelos de exposição, às vezes sai a perder.

Sem comentários:

Enviar um comentário